IFSP - Cursinho Popular
Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
Fonte: Cepal (2015).1
Desde o século XV, diversos acontecimentos e consequentes transformações sociais vêm definindo aquilo que hoje chamamos de capitalismo. Nele, a vida em sociedade ganhou características específicas no que diz respeito às formas de produção, conhecimento, cultura, consumo e afins, que se distinguem das sociedades que o precederam.
Apesar de suas feições particulares, o capitalismo surge de intensas relações com os processos de dissolução das sociedades feudais, as quais eram organizadas em torno do trabalho servil e da produção agrícola nos feudos que, com o decorrer do tempo, foi substituída por novos interesses ligados ao comércio e ao mercado, que passaram a ser o eixo central da emergente sociedade capitalista. O campo deu lugar às cidades; as manufaturas e as indústrias mudaram as relações de produção da velha sociedade e o consumo ganhou proporções cada vez maiores em consequência da produção em larga escala de mercadorias.
Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
O feudalismo foi o sistema político, econômico e social predominante na Europa durante a Idade Média. Tinha por base a descentralização política, a autossuficiência dos feudos, tidos como a unidade de produção da época, e a imobilidade social dos estamentos.
A sociedade feudal era dividida, basicamente, em 3 estamentos:
A produção no feudalismo era marcada pela autossuficiência dos feudos, isto é, produzia-se somente o que seria consumido, não havendo comércio ou dinheiro. Quando necessário, trocavam-se produtos por outros produtos.
Fonte: Ler e Aprender.2
Crise do Feudalismo
Fonte: Curado (2019).3
Os primeiros sinais da crise do feudalismo surgiram com a escassez de alimentos provocada pelo excesso de chuvas na época. As denominadas revoltas camponesas, que tiveram como principal causa a queda da produtividade agrícola entre os séculos XI e XII, combinada ao aumento populacional e a resistência da nobreza em reduzir as taxas cobradas aos trabalhadores.
Observou-se como resultado miséria e fome entre os camponeses, fator que foi agravado, ainda, pela catástrofe demográfica da Peste Negra que dizimou 40% da população europeia.
Tudo isso, juntamente com a reativação do comércio pelas cruzadas e a ascensão da nova classe burguesa, culminou no enfraquecimento da nobreza e flexibilização das relações de servidão. Muito do poder da nobreza foi transferido aos reis, fragilizando as relações feudais e minando as bases do feudalismo.
Fonte: Teodoro (2020).4>
Com a reabertura do mar mediterrâneo, em decorrência das Cruzadas, entre os séculos XI e XIII, novas rotas foram estabelecidas ligando regiões produtoras. No cruzamento destas rotas foram organizados centros de comércio temporários, as chamadas feiras, que reuniam mercadores das mais diversas partes da Europa.
A fim de se protegerem de assaltos, os mercadores das feiras começam a se estabelecer ao redor de palácios e mosteiros, formando os chamados burgos, que, com o tempo, foram crescendo e se desenvolvendo, constituindo as cidades.
Por muito tempo os moradores dos burgos, por ainda se estabelecerem em áreas pertencentes aos feudos, foram obrigados a pagar taxas e impostos aos senhores feudais, fenômeno este quebrado pelo chamado movimento comunal, garantindo a independência urbana da nova classe emergente: a burguesia. Essa nova classe quebra a organização econômica e social da sociedade de estamentos ao permitir a mobilidade social daqueles que desenvolviam suas atividades comerciais e, com isso, acumulavam renda.
O novo sistema comercial, diferentemente da organização de produção feudal, baseava-se no trabalho livre e assalariado. Essa mudança foi crucial para os acontecimentos que viriam na transição da Idade Média para a Idade Moderna, a decadência do feudalismo e o início da primeira fase do capitalismo.
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Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
Fonte: Souza (2020). 5
O capitalismo surgiu no século XV, com a decadência do sistema feudal. Desde então, passou por diversas fases, apresentando múltiplas faces até se transformar naquilo que conhecemos hoje.
1ª fase: Capitalismo Comercial (século XV- XVII)
Na primeira fase do capitalismo, também denominada de pré-capitalista, o modelo econômico vigente era o mercantilismo e o sistema político o absolutismo. Acreditava-se que a riqueza no mundo não poderia ser aumentada, mas sim redistribuída. Dentro disto, os países buscavam a acumulação de riquezas por meio do protecionismo e acúmulo de metais oriundos de trocas comerciais com outros países.
Absolutismo
O absolutismo é definido como o sistema político e administrativo que prevaleceu nos países da Europa, na época do Antigo Regime (séculos XV ao XVIII). Com a decadência do sistema feudal, se dá o fim da Idade Média, na qual ocorre forte centralização política na mão dos reis. A burguesia comercial estava se despontando como classe social forte e poderosa, e era favorável um governo forte e capaz de organizar a sociedade privilegiando seus interesses.
Portanto, a burguesia fornecia apoio político e financeiro aos monarcas, que em troca, criaram um sistema administrativo eficiente, unificando moedas e impostos, melhorando a segurança em seus reinos e garantindo a facilidade e preservação do comércio.
Mercantilismo
O mercantilismo foi desenvolvido na Europa durante a Idade Moderna, entre o século XV e o final do século XVII. Dando início a um conjunto de medidas econômicas de acordo com cada estado. Influenciou uma forte mudança na economia, seguida de uma série de medidas voltadas a unificar o mercado interno e formar estados nacionais.
O mercantilismo era a política econômica adotada na Europa durante o Antigo Regime. Como dito anteriormente, o governo absolutista interferia muito na economia dos países. O objetivo principal destes governos era alcançar o máximo possível de desenvolvimento econômico, através do acúmulo de riquezas. Quanto maior a quantidade de riquezas dentro de um reino, maior seria seu prestígio, poder e respeito.
Aspectos centrais do sistema mercantil:
No entanto, o mercantilismo se solidifica mesmo como sistema econômico a partir do episódio das expansões marítimas (grandes navegações), seu intuito era buscar novos comércios e mercados consumidores, novas fontes de matérias-primas, exploração de recursos e preciosidades e domínio de novas terras para angariar impostos. Devido à esse período, o sistema mercantil ganha também a denominação de capitalismo comercial.
As expansões marítimas foram importantes, para assim se consolidar o capitalismo comercial (Mercantilismo).
As grandes navegações foram motivadas pelo esgotamento de metais preciosos, devido a constante exploração das minas europeias para cunhagem de moedas, os europeus necessitavam de novos mercados e territórios. Seu destino principal foi a África, que era abundante em metais preciosos e mão de obra escrava, e o Oriente, em especial a Índia, rica em especiarias (cravo, canela, pimenta, açúcar) e produtos mais luxuosos como tapetes persas, perfumes, mirra e incensos, a porcelana e a seda Asiática, entre outros.
Para o comércio de tais itens, as rotas conhecidas eram pelo Mar Mediterrâneo, sendo monopolizadas pelas principais cidades portuárias, Gênova e Veneza; além disso alguns povos árabes continham uma poderosa frota naval. Para acabar com o monopólio italiano sobre as rotas comerciais, a busca por novas frotas que escapassem do mediterrâneo era essencial. Houve, então, o desbravamento de mares desconhecidos, como o Oceano Atlântico e o Oceano Índico.
Fonte: Portiguarservicos.6
Outro evento importante, que sucedeu para o acontecimento das navegações, foi a tomada de Constantinopla, no ano de 1453, pelos Turcos Otomanos.
Constantinopla era um centro de grande importância e influência, considerada por muitos como uma cidade modelo era muito bem localizada, sendo um ponto de encontro entre Europa e Ásia. Contudo, em 23 de maio de 1453, a cidade é dominada pelo sultão Mehmed II, e é transformada na nova capital do Islã.
Devido aos conflitos dos Turcos com as cidades Italianas, as rotas comerciais do Mediterrâneo foram bloqueadas, causando o encarecimento das especiarias no mercado europeu; diante disso, a ideia das navegações ganha força com o objetivo de baratear as especiarias advindas da Índia.
As futuras navegações interessavam a todas as camadas de poder, a Nobreza e a Burguesia formavam uma nova configuração social, as monarquias nacionais. A Nobreza almejava novas conquistas territoriais e expansão militar; a Burguesia (Grupo Mercantil) almejava a expansão dos lucros e a possibilidade de comércio de especiarias nos novos mundos. Do Governo geral desejava-se novas formas de tributação de impostos nos novos territórios, além da exploração dos metais preciosos. A igreja era, igualmente, uma apoiadora do acontecimento da exploração dos mares, com o intuito de propagar a fé católica aos novos povos, a expansão da igreja católica mundo afora era muito bem quista.
Portugal foi a primeira nação a realizar a expansão marítima, isso se deu por conta de diversas condições favoráveis, como por exemplo, a Estabilidade Política. O surgimento de Portugal ocorreu em 1139, a partir do Reino de Castela. O Condado Portucalense têm a Dinastia de Borgonha como regente e Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal. Nesse período houve a expulsão dos Mouros (os povos árabes muçulmanos) como resultado da Guerra de Reconquista, trunfo português adquirido precocemente no século XIII, fato que os espanhóis só conseguiram no final do séc. XV.
A Revolução de Avis, também colaborou para a estabilidade política portuguesa, unindo Nobreza à Burguesia e ampliando fortemente o seu comércio.
Portugal também avançou muito nos quesitos técnicos da navegação, inovando a engenharia naval com a invenção da caravela, do leme, a importação de novos meios de orientação, como o astrolábio, a bússola, o quadrante, a balestilha, o sextante, grandes avanços na astronomia, que auxiliavam os marinheiros em alto mar; houve também o desenvolvimento da cartografia náutica.
Além disso, desde o século VIII Portugal vinha desenvolvendo grande experiência no atlântico em navegação e comércio. Desde o período dos Mouros, faziam conexões com o norte da África (domínio dos muçulmanos Mouros) e com o norte europeu. Ao contrário de outros países, como França e Inglaterra, que devido a Guerra dos 100 anos tiveram uma exploração marítima tardia, Portugal não tinha muita relação com guerras.. Além disso, Portugal avançou muito pois apresentava ótima localização geográfica, ficando na entrada do atlântico. Esses motivos permitiram que os portugueses fossem os primeiros a iniciar a era do descobrimento.
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Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
Fonte: goconqr. 7
Praticamente durante todo o séc. XV os portugueses foram os principais desbravadores das novas rotas marítimas. Sua primeira grande conquista foi a cidade de Ceuta (atualmente localizada no Marrocos), no ano de 1415. A partir de então os portugueses foram contornando a costa da África pelo Atlântico, fato que ficou denominado como Périplo Africano, chegando a inúmeros territórios africanos, ultrapassando o cabo bojador em 1434 e, em seguida, chegando a África Subsaariana, que se tornaria principal fonte do tráfico de escravos.
No entanto, as novas rotas para o Oriente ainda não haviam sido encontradas. Antes que os Portugueses conseguissem tal façanha, a Espanha inicia sua expansão marítima em busca de um novo caminho para a Ásia.
A Espanha dá início a sua unificação como um reino em 1469, com o casamento de entre Fernando de Aragão e Isabel de Castela, entretanto, grande parte do território espanhol era dominado pelos mouros o que ocasiona um atraso na formação como um império. Somente em que os mouros são derrotados pelos espanhóis e assim se consolida a monarquia espanhola.
Fonte: Canção Nova.8
Como Portugal estava em busca de uma nova rota para a Índia percorrendo o litoral africano, para que os espanhóis chegassem primeiro ao Oriente teriam que optar por um caminho diferente dos portugueses. Nesse contexto, a Espanha passa a considerar as ideias de um marinheiro italiano, Cristovam Colombo.
Colombo já havia tentado apoio antes, para uma possível expedição marítima, com a Espanha em si e até mesmo com Portugal, porém, devido aos problemas dos espanhóis com os mouros, não havia meios de patrocinar uma expedição naquele momento, e os portugueses não acreditaram que o percurso planejado por Colombo desse resultado. Ele tinha a ideia de chegar ao Oriente indo pelo Ocidente, quase como uma volta ao redor do globo.
A Espanha não tinha muitas opções, assim, era uma questão de tempo para Portugal encontrar uma nova rota comercial. Mediante essa situação, a coroa espanhola decidiu financiar uma expedição marítima ao comando de Cristovam Colombo.
No dia 3 de agosto de 1492, Colombo parte da Espanha, com suas três embarcações, as caravelas Niña e Pinta e a nau Santa María. Rumo ao ocidente em busca do Oriente, a viagem durou cerca de dois meses, até que em 12 de outubro de 1492, Colombo e sua tripulação encontram novas terras, havendo assim a descoberta da América.
Fonte: usembassy.gov.9
Após a descoberta das novas terras, a Espanha toma medidas de prevenção para que território encontrado fique sobre sua posse. Para evitar possíveis conflitos com os portugueses, que não estavam felizes com o trunfo da Espanha, a coroa espanhola com o auxílio do papa Alexandre VI, elabora um acordo de divisão das terras entre as duas nações, o Tratado de Tordesilhas.
Graças a esse acordo, em 22 de abril de 1500 os portugueses chegam em novas terras a leste do Atlântico, o que viria ser o Brasil.
As Grandes Navegações certamente alteram o mundo. É através desse período que se tem os primeiros sinais de globalização, havendo movimentações e interações entre culturas distintas e transformando as mesmas. Com a colonização desses novos mundos e a exploração quase total de seus recursos, a Europa forma sua Hegemonia mundial.
A necessidade de assegurar suas conquistas além-mar impulsionou uma especialização territorial entre as Metrópoles coloniais (inicialmente Portugal e Espanha, e depois Inglaterra, França) e os territórios conquistados “as Colônias”, o que foi denominado de Divisão Internacional do Trabalho ou DIT. Na figura abaixo a DIT durante esse Capitalismo Comercial.
Ilustração: Marlene Araújo
Os Caminhos da Globalização ditados pelo capitalismo.
Atualmente o mundo está conectado e o comércio entre países acontece de forma rápida, pré estabelecida e com uma logística desenhada mundialmente, é fácil encontrar produtos de variadas partes do planeta em lugares diversos. Os grandes conglomerados, tornam-se cada vez mais fortes, ditando as regras do mercado e as condições de trabalho. Os países se integraram, fortalecendo e expandindo o mercado mundial, utilizando-se de tecnologias cada vez mais avançadas de produção, produzindo em larga escala e atendendo um mercado exigente e imediatista.
O preço do desenvolvimento foi alto, atravessando séculos de escravidão, exploração, destruição de recursos naturais e graves crises econômicas, levando inclusive a grandes guerras e lutas por territórios. Esse desenvolvimento somente tornou países ricos mais ricos e países pobres mais pobres, com posições bem definidas de quem é fornecedor de tecnologia e quem é consumidor e fornecedor de matéria prima e mão de obra.
É nesse contexto que o capitalismo ganha força e se expande globo a fora. Devido a todas transformações que o sistema capitalista havia feito, e ainda faz, com o tempo se tem o surgimento de movimentos filosóficos, que buscavam o distanciamento da Idade Média, pois suas consequências ainda eram visíveis, mas também se tem as primeiras formas de crítica a esse novo modelo econômico que cada vez mais vinha se firmando mundialmente, o capitalismo. Entre esses movimentos vale destacar:
Licenciada sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License. Cursinho Popular IFSP Itapetininga 2021
Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
Fonte: Só História.10
O Iluminismo foi uma corrente de pensamento predominante na Europa no século XVIII. Tinha como principal foco a defesa da razão sobre a fé, retratando a visão de mundo da classe burguesa ascendente. Seus pensadores contestavam o mercantilismo e as doutrinas absolutistas, apoiando valores liberais políticos e econômicos.
Os primeiros teóricos iluministas surgiram ainda no século XVII, sendo influenciados pelas mudanças na Europa da época, resultantes de acontecimentos como o Renascimento, a Reforma Protestante, expansão marítima e comercial, além da ascensão da burguesia.
Fonte: Portal Vestibulando.11
Segundo o pensamento iluminista, o verdadeiro conhecimento poderia ser obtido tanto por via do racionalismo abstrato, cujo maior representante foi René Descartes, como por meio do empirismo inglês, representado por filósofos como Francis Bacon e John Locke.
O racionalismo, método científico apresentado por René Descartes, estabelecia a razão como único caminho para o conhecimento da verdade.
Descartes acreditava que, para se chegar a conhecimentos mais amplos, todas as teorias precisavam ser questionadas. Dentro disto, era necessário, primeiramente, partir dos denominados axiomas, isto é, verdades básicas e inquestionáveis. Um de seus primeiros axiomas foi o famoso “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum).
Segundo René Descartes o “espírito humano tem em si meios de alcançar a verdade, se souber cultivar sua independência e conduzir-se com o método”. Ou seja, a certeza de algo é possível pois o espírito humano já carrega em si ideias claras e distintas, que são inativas e por isso não estão sujeitas ao erro.
O empirismo, assim como o racionalismo, investigou problemas filosóficos relacionados ao conhecimento. Contudo, contrapondo-se a este, que privilegiava a razão e partia da consciência como fonte segura de verdade, o empirismo acreditava que a construção do conhecimento se dava por meio da experiência sensível. A propósito, a palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa “experiência”.
Um dos filósofos formuladores do empirismo foi Francis Bacon, que valorizou a indução e insistiu na necessidade da experiência, criticando a lógica racionalista, predominantemente dedutiva.
Na mesma linha empirista, John Locke proferiu que nada está no espírito que não tenha passado primeiro pelos sentidos, ou seja, o conhecimento não é inato, mas resultado da forma como processamos as informações que recebemos através da experiência. Para ele, quando nascemos somos como uma “tábua rasa”, isto é, uma folha em branco que é escrita na medida que vivemos e temos experiências no mundo. Em suma, todo conhecimento é baseado na experiência, que nos fornecem ideias acerca de tudo aquilo que podemos saber.
As fontes das ideias, para Locke, são duas:
Isso não quer dizer que para os empiristas a razão seja depreciada no processo cognitivo, mas sim que devemos privilegiar a experiência, subordinando esta a um trabalho posterior da razão.
Fonte: Beduka (2019).12
Intimamente ligado a ascensão e fortalecimento da burguesia e aos ideais Iluministas dos séculos XVII e XVIII, o liberalismo surgiu como uma forma de oposição a estrutura do Antigo Regime, baseado no absolutismo monárquico e seu correspondente regime econômico: o mercantilismo. Ou seja, a doutrina liberal tinha em sua essência um conjunto de ideias que se contrapunham ao intervencionismo do Estado, ao poder absoluto dos reis, e a sociedade estratificada e baseada em privilégios.
Um dos primeiros grandes movimentos revolucionários fundamentados pelos ideais liberais foram a Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa, que compunham as denominadas Revoluções Inglesas do século XVII. A partir dessas revoluções os ingleses instituíram uma monarquia parlamentarista, abrindo-se a possibilidade de participação política de pessoas que não pertencessem à nobreza, sendo o poder do rei limitado e a burguesia fortalecida.
Durante as Revoluções Inglesas um nome de grande destaque foi John Locke, que, além de um filósofo empirista, é conhecido por ser um dos principais precursores da ideologia liberal. Seu pensamento parte da questão da legitimidade do poder: o que torna legítimo o poder do Estado?
Segundo Locke, para se entender o propósito, a justificativa e os limites da autoridade do Estado, deveríamos investigar os indivíduos na ausência dessa autoridade, na condição que ele denominou de estado de natureza. Nesse estado, os homens desfrutariam dos chamados direitos naturais, que são: o direito à vida, à liberdade individual, à igualdade e à propriedade privada, sendo esta última derivada do trabalho e, portanto, natural.
Entretanto, sendo os próprios homens, dentro de sua liberdade, juízes de si mesmo, se faz necessária a consolidação de um pacto de mútua conservação de seus direitos naturais para que inconvenientes não venham a ocorrer. Assim nasce a sociedade política, onde os indivíduos, por conveniência e necessidade, abrem mão de seu direito natural de justiça, passando-o ao governo no denominado “contrato social”.
Dentro disto, para Locke, a função do Estado é preservar as liberdades individuais, e não as restringir. Ao não cumprir com sua função, o mesmo pode ser derrubado pelos indivíduos sociais, uma vez que todo poder político é tido pelo consentimento da maioria. A partir disso se dá o nascimento do chamado liberalismo político, em oposição ao então regime absolutista vigente.
Liberalismo político
Fonte: Politize!.13
O liberalismo, no geral, tinha como principal intuito acabar com a opressão do Estado sobre a liberdade do indivíduo, sobretudo no que diz respeito às esferas econômicas e políticas, abandonando a visão medieval de Estado absolutista com poderes irrestritos. Dentro disto, os liberais adotam uma visão política pautada no republicanismo ou no parlamentarismo, sistemas em que se permitia a divisão dos poderes, retirando das mãos do monarca o poder absoluto.
Charles de Montesquieu, um filósofo francês que influenciou o liberalismo e a Revolução Industrial, defendia a divisão dos poderes estatais em:
1. Poder Legislativo: responsáveis pela criação das leis;
2. Poder Executivo: encarregado de executar a lei e governar;
3. Poder Judiciário: a quem cabe punir crimes e aplicar as sanções necessárias.
Nesta formulação, Montesquieu não deixa em uma única mão a tarefa de legislar, administrar e julgar, uma vez que acredita que a concentração de poder tende a gerar um abuso do mesmo, suprimindo as liberdades individuais.
Em resumo, os ideais do liberalismo político são:
• Defesa dos direitos e liberdades individuais: o liberalismo não reconhece os direitos coletivos, para ele o indivíduo é o agente das relações jurídico-sociais, detendo de direitos individuais.
• Estado mínimo: a intervenção do Estado é limitada ao plano legal, não podendo, este, atuar ou intervir em todas as esferas sociais. Deste modo, o poder estatal atua em função de promover as condições mínimas necessárias para o livre desenvolvimento de cada cidadão, o que significa também a ausência de assistencialismo.
• Igualdade perante a lei: todos são iguais perante a lei, tratados como tais pelo Estado, não existindo privilégios.
• Governos representativos e constitucionais.
Liberalismo econômico
Figura- Economista Adam Smith
Fonte: Bezerra (2020).14
Apesar das primeiras manifestações do liberalismo terem se dado nas Revoluções Americanas, seu grande estopim ocorreu com a Revolução Francesa, em 1789, que transformou a forma de pensar de grande parte da Europa. Muito embora tenha tido início no século XVII, com John Locke, foi por meio de Adam Smith que esta doutrina foi ampliada também para a economia, criando-se o denominado Liberalismo Econômico.
O liberalismo econômico consiste na ideia de que o Estado não deve intervir na economia, uma vez que esta deve ser dada por meio da livre iniciativa dos cidadãos, que devem ter liberdade para produzir e fazer comércio, sendo os únicos responsáveis por sua riqueza e sucesso. Dentro disto, em seu livro “A Riqueza das Nações”, Adam Smith coloca o livre mercado como o grande “regulador” da sociedade, sendo as falhas corrigidas naturalmente por meio daquilo que ele chamou de “mão invisível”, que faria com que a economia se desenvolvesse autonomamente através da iniciativa privada, sem a necessidade de intervenção estatal.
Em resumo, dentre os principais ideais do liberalismo econômico estão:
• Reconhecimento da propriedade privada: não há obrigação de objetivos sociais para a propriedade privada, sendo ela utilizada exclusivamente por quem a adquiriu.
• Livre mercado e concorrência: diz respeito a liberdade para o comércio produzir, determinar seus preços e controlar seu padrão de produção, sendo o próprio mercado, por meio da lei da oferta e procura, regulador da demanda e do valor das mercadorias, sem a necessidade de intervenção do Estado.
• Tributação mínima: o imposto sobre as empresas quase não existia.
Consequências do liberalismo
O liberalismo teve inúmeras consequências para o mundo moderno. Além de romper com as estruturas sociais vigentes na época de sua ascensão, o mesmo influenciou movimentos revolucionários como as Revoluções Inglesas, que resultaram na ascensão da classe burguesa na Inglaterra e a Revolução Francesa, movimento que acabou com o Antigo Regime na França e marcou a transição da Idade Moderna para a Contemporânea.
Além disso, as teorias liberais foram amplamente difundidas na Europa, em territórios altamente industrializados, permitindo a manutenção de um sistema capitalista onde as regras de manutenção econômica eram regidas pelo mercado e determinados por instituições privadas.
Enquanto pensamento político, o liberalismo atua na garantia das liberdades individuais, e, enquanto doutrina econômica, na liberdade de propriedade e comércio. No entanto, o sistema é duramente criticado no século XIX pelo marxismo (ver abaixo em Karl Marx), corrente de pensamento que aponta o liberalismo como responsável pela grande concentração de riqueza nas mãos da burguesia e a pobreza da classe operária que se ampliou a partir da próxima fase do Capitalismo, denominada de Industrial.
Licenciada sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License. Cursinho Popular IFSP Itapetininga 2021
Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
Fonte: Souza (2020).15
A transição do Capitalismo Comercial, no século XVII, para o Capitalismo Industrial, ocorreu em meio a revoluções políticas e tecnológicas, como a Revolução Francesa, iniciada em 1789 e a Revolução Industrial, que começou na Inglaterra em 1760, tendo como seu principal marco a introdução da máquina a vapor, o que possibilitou a transição da produção manufatureira para a produção industrial.
Além de alterar a forma de produção vigente, a Revolução Industrial provocou significativas transformações em todas as esferas globais, inclusive nas paisagens, podendo esta ser vista por meio do denominado êxodo urbano, responsável pela formação de massas de trabalhadores.
Assim, a produção industrial se fazia cada vez mais necessária, pois, devido ao crescimento demográfico e expansão das cidades, era preciso que mercadorias fossem produzidas e distribuídas de maneira mais eficiente e em maior escala. Nesse período, o poder passou para as mãos da burguesia, que cresceu e se desenvolveu com a intensificação do comércio.
A economia, nessa fase do capitalismo industrial, era fundamentada pelos ideais do liberalismo econômico, que como vimos foi representada por Adam Smith. É bom lembrar que para o economista, o bom desenvolvimento econômico e o enriquecimento estavam vinculados ao livre comércio, a não intervenção estatal na economia e a garantia da propriedade privada. Segundo ele, a lei da oferta e procura por si só seria capaz de regular o mercado, sem a necessidade da intervenção do Estado.
Durante o capitalismo industrial, os países industrializados como a Inglaterra dominavam o mercado de suas colônias e se impunham sobre nações independentes (como o caso do Brasil em meados do século XIX), que precisavam produzir matéria prima como o algodão para as tecelagens, viabilizando uma troca nada justa para as colônias e essas nações já independentes que se tornaram “consumidoras” dos produtos manufaturados das potências industriais. Essa relação de troca pode ser visualizada abaixo no esquema da Divisão Internacional do Trabalho (DIT), durante o Capitalismo Industrial.
Ilustração: Marlene Araújo.
O modo de produção em vigor nessa fase resultou no aumento da produtividade, diminuição no valor das mercadorias e acumulação de capital. Contudo, tais avanços só foram possíveis por meio de condições de trabalho precárias, com cargas horárias exorbitantes e baixos salários.
Esse panorama impresso pelo Capitalismo, a consolidação dessa sociedade e seu modo de produzir, foram o cerne da formação da Sociologia. Sua origem, como todo e qualquer acontecimento histórico, tem ligação direta com as necessidades sociais que se manifestaram no momento de seu nascimento, que está ligado a forma como o capitalismo se difundiu nos séculos XIX e XX, especialmente com seu desenvolvimento social e político e a consequente necessidade de se explicar as transformações sociais ocorridas no período.
Era na exploração do trabalho alheio que se produzia a chamada mais-valia, (definição apresentada por Karl Marx) ou seja, o trabalho não pago ao trabalhador e transformado em capital que era acumulado para o capitalista, detentor dos meios de produção.
1. Karl Marx
Fonte: Belém (2012).16
Karl Marx contribuiu para a análise do capitalismo ao formular uma teoria na qual a sociedade é tida como resultado de embates de grupos sociais distintos. Sua análise social é marcada pelo exame das relações de força dos indivíduos. Em sua obra “O capital”, Marx expõe a lógica de valorização do capital com base na exploração do trabalho.
Segundo o autor, a chave para explicar as transformações sociais é a relação conflituosa entre classes sociais distintas e com interesses contrários. Essa divisão é fruto de um processo histórico de lutas em que, uma das classes sociais se torna dominante e acaba por controlar os interesses da outra.
Para ele, a sociedade moderna é dividida em duas grandes classes: a burguesia (classe capitalista, proprietária dos meios de produção) e o proletariado (trabalhadores), sendo a última subordinada a primeira. Essa relação tem como base a retirada, pela burguesia nascente no século XVIII, dos meios de produção dos produtores livres. Ou seja, a classe trabalhadora foi expropriada de suas terras, ferramentas, casas e locais de trabalho, sendo forçada a vender sua força aos burgueses, em troca de um salário, para garantia de seu sustento.
Segundo Marx, é com base na exploração do trabalho assalariado que a sociedade capitalista produz e reproduz sua existência. O trabalhador, tendo somente sua força para vender, trabalha mais horas do que o necessário para produzir algo referente ao valor de seu salário. O excedente produzido é chamado por Marx de mais-valia, termo criado por ele para explicar a diferença entre o valor do que o trabalhador produz e o seu salário.
Figura - License Creative Commons
O valor das horas trabalhadas e não pagas ao trabalhador, isto é, a mais-valia, é reaplicado na produção, resultando na denominada acumulação de capital, a qual enriquece ainda mais o proprietário dos meios de produção, perpetuado as relações de dominação e exploração do trabalhador pela burguesia.
Nessas relações, Marx percebe a divisão do trabalho como um fator de exploração e alienação do trabalhador na sociedade capitalista. Segundo ele, quanto mais específico e repetitivo for um trabalho, mais alienado o operário ficará de sua atividade e condições trabalhistas, não percebendo a exploração que vêm sofrendo ao vender sua força.
Os trabalhadores, ao perceberem a desproporção entre seu trabalho e o salário recebido, entram em conflito com os proprietários dos meios de produção, sendo, o processo de desenvolvimento do capitalismo, marcado por inúmeros enfrentamentos entre as classes sociais.
Fonte: Porfírio, Brasil Escola.17
Além de Marx, outros importantes pensadores as Sociologia adotaram diferentes métodos de análise e desenvolveram grandes estudos acerca da sociedade capitalista e seus mecanismos de funcionamento, como Émile Durkheim e Max Weber Émile Durkheim
Durkheim foi particularmente influenciado pelos desdobramentos históricos dos séculos XVIII e XIX, contribuindo para a análise do sistema capitalista ao tentar explicar a desordem provocada pelas transformações industriais e políticas, dentro de um mundo cada vez mais tomado pela divisão do trabalho. Sua sociologia buscou entender e ordenar uma sociedade caótica, ao tentar encontrar o denominado estado de equilíbrio social.
Nos termos de Durkheim, a sociologia deve ter como foco o estudo dos fatos sociais, isto é, formas de pensar, sentir e agir que exercem uma força externa sobre os indivíduos. Para ser considerado um fato social, o fenômeno observado deveria apresentar as seguintes características:
Um exemplo de fato social é a crescente especialização do trabalho, promovida pela produção industrial que, para Durkheim, resultou em uma forma superior de solidariedade, e não de conflito, como postulado por Marx.
Para o autor, existem duas formas de solidariedade:
Nas palavras de Durkheim: “[...] a divisão do trabalho [...] não servia apenas para dotar nossas sociedades de luxo, invejável talvez, mas supérfluo; ela seria uma condição de existência da sociedade. Graças à divisão social do trabalho, ou pelo menos por seu intermédio, se garantiria a coesão social; ela determinaria os traços essenciais da constituição da sociedade. Por isso mesmo [...] caso seja essa realmente a função da divisão do trabalho, ela deve ter um caráter moral, porque as necessidades de ordem, de harmonia e de solidariedade social são geralmente consideradas morais” (DURKHEIN apud RODRIGUES, 2000, p.66).
Em suma, segundo Durkheim, a interdependência em razão da divisão do trabalho gera solidariedade, fazendo a sociedade funcionar e garantindo a chamada coesão social. Dentro disto, as relações de trabalho devem ser preservadas.
3. Max Weber
Fonte: Oliveira.18
Max Weber, assim como Durkheim, também se empenhou em sistematizar a Sociologia, contudo, diferentemente deste, não considerava a sociedade superior e exterior aos indivíduos. Seu pensamento tem como base a ideia de que a compreensão dos fenômenos estruturais – como o capitalismo – deve partir da análise de ações individuais, uma vez que, segundo ele, as normas sociais só se tornam concretas no momento em que cada indivíduo se manifesta. Assim, a ação social individual é sempre orientada pela ação de outra pessoa, ou seja, os fenômenos sociais são consequência das ações individuais.
O indivíduo, segundo o autor, não é considerado produto de um meio coercitivo, mas sim responsável pelos seus próprios atos. A sociedade não tem um sentido próprio, mas é reproduzida pelos indivíduos, que por meio de suas ações lhe dão sentido.
Weber, bem como Marx, analisava o trabalho sobre um ponto de vista histórico. Para ele, cada sociedade opera e se forma por meio de condições específicas, tornando o trabalho, na sociedade capitalista, uma atividade fundamental para a preservação da mesma.
Embora reconhecesse o impacto do trabalho e da economia sobre a vida social, Weber teve como foco a análise de como outros aspectos da sociedade, como a religião, por exemplo, tinham forte influência sobre a economia.
Em sua obra mais famosa “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber faz uma análise acerca de como o desenvolvimento do capitalismo foi favorecido em países onde o protestantismo era mais forte. Isto ocorreu, segundo ele, pelo fato de que alguns ideais do protestantismo, como a valorização do trabalho e a doutrina da predestinação de Calvino, favoreciam o sistema.
Dentro disto, o autor defende que a ascensão e desenvolvimento do capitalismo só foi possível devido a sede de lucro e ética religiosa. Assim, nasce aquilo que Weber chamou de “espírito do capitalismo”, no qual o trabalho duro e disciplinado aparece como uma virtude, sendo um caminho não só para o sucesso, mas para a salvação espiritual. Isto é, a sociedade capitalista se desenvolve por meio de uma lógica em que a dignidade do homem passa a estar diretamente relacionada ao seu trabalho e, a vida material, ganha grande importância.
Apesar das críticas ou do relativo apoio ao modelo capitalista liberal, verifica-se que esse modelo começa a perder força após a Crise “Crash” da Bolsa de Nova York em 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o Estado teve o papel de reorganização das economias nacionais. Tal papel estatal na economia, coube as teorizações do economista inglês John Maynard Keynes (figura abaixo), que deu origem a uma série de medidas protecionistas.
Figura- Economista inglês John Maynard Keynes
Fonte: Politize! (2019).19
Em decorrência da adoção de políticas liberais no capitalismo, o sistema passa por uma das piores crises econômicas da história – a crise de 1929. Essa recessão se deu, sobretudo, por conta de uma excessiva produção dos Estados Unidos associada a redução da demanda de produtos, fazendo com que as empresas perdessem seu valor e houvesse uma quebra na bolsa de valores de Nova York.
Para salvar o mercado, foi necessária a intervenção do Estado na economia, fugindo dos moldes liberalistas de regulação da mesma. Assim, um novo modelo econômico precisou ser adotado: o Keynesianismo.
O modelo Keynesiano defendia a intervenção do Estado na economia com o fim de evitar crises, garantir o consumo e o emprego, sendo, por isso, também chamado de Welfare state ou Estado do bem-estar social.
O sistema perde força a partir dos anos 1980, dando lugar ao denominado neoliberalismo, com seus ideais de Estado mínimo e pouca participação estatal na economia, onde as regras do mercado são suficientes para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social.
Licenciada sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License. Cursinho Popular IFSP Itapetininga 2021
Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
A terceira fase do capitalismo, também denominada Capitalismo Financeiro, desenvolveu-se no final do século XIX e no começo século XX, mas foi com o final da Segunda Guerra Mundial, que bancos e empresas se uniram para maior obtenção de lucros. Neste período, as indústrias deixam para trás seus moldes originais e, com o apoio das instituições financeiras, internacionalizam-se.
É nesse contexto que surgem as multinacionais e transnacionais, fortalecendo práticas monopolistas. Nesse modelo, quem dita as leis do mercado são as instituições financeiras e os grandes grupos empresariais. Sua denominação – Capitalismo Financeiro – ocorre em função das empresas passarem a vender parcelas de suas ações na chamada bolsa de valores, produzindo riqueza por especulação.
Dentre as principais características dessa fase estão a elevada concorrência internacional, a evolução tecnológica, globalização, monopólio comercial, elevadas taxas de urbanização e exploração da mão de obra.
Tecnologias avançadas ditam as regras do mercado mundial, países que detém conhecimentos tecnológicos, comandam o comércio mundial, enquanto países pobres ou subdesenvolvidos fornecem matéria prima, mão de obra barata e abundante e ainda são consumidores dos produtos manufaturados com maior valor agregado, como expressa a nova DIT abaixo.
Ilustração: Marlene Araújo
Essa nova DIT que além das relações de trocas, que pouco se modificaram nas outras duas fases do Capitalismo, acrescenta-se a eles um fluxo imaterial (mídias, tv, cinema, streaming, redes sociais, pay-per-view, informações), ocasionadas pelos aperfeiçoamentos na informática e telecomunicações. São mercadorias ‘imateriais’ de alto valor agregado que circulam pelo mundo captando recursos financeiros pelo direito de acesso a essas mídias e informações.
Além disso, essas tecnologias permitiram o rápido fluxo de capitais e investimentos entre as diversas bolsas de valores pelo mundo, o que tornou o mundo menor, globalizado e como definiu o intelectual canadense Marshall McLuhan (1911-1980), o mundo se tornou do tamanho de uma aldeia, rapidamente acessível graças a essas inovações, ou seja, uma Aldeia Global.
Licenciada sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License. Cursinho Popular IFSP Itapetininga 2021
Como citar este documento: LOMBARDI, Marina Salles Leite; SILVA, Juliano Ricciardi Floriano; SILVA, Eliabe Momberg da; ALCÂNTARA, Evelyn Karoline Gusson; PEREIRA, José Gustavo Leme; ARAÚJO, Marlene Aparecida. A evolução do capitalismo. Cursinho Popular IFSP Itapetininga, Itapetininga, fev. 2021. Disponível em: https://cursinhopopular.itp.ifsp.edu.br/site/cursinho/home/materias/capitalismo.html. Acesso em: [data de acesso].
1. (ENEM-2016)
TEXTO I – Cidadão
Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
“Tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?”
Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer.
BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento).
TEXTO II
O mais trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor.
MARX, K. Manuscritos econômicos (Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado).
Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é:
a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda social por novos postos de emprego.
b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o aumento da produção de bens e serviços.
c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata.
d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária.
e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador
2. (ENEM-2015)
O impulso para o ganho, a perseguição do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro não tem, em si mesma, nada que ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode-se dizer que tem sido comum a toda sorte e condição humanas em todos os tempos e em todos os países, sempre que se tenha apresentada a possibilidade objetiva para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da empresa permanente, capitalista e racional. Pois assim deve ser: numa ordem completamente capitalista da sociedade, uma empresa individual que não tirasse vantagem das oportunidades de obter lucros estaria condenada à extinção.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001 (adaptado).
O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta como característica fundamental a
a) competitividade decorrente da acumulação de capital.
b) implementação da flexibilidade produtiva e comercial.
c) ação calculada e planejada para obter rentabilidade.
d) socialização das condições de produção
e) mercantilização da força de trabalho.
3. (ENEM-2013)
Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.
MARX, K. Prefácio à Critica da economia política, In: MARX, K.: ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).
Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que
a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia.
b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material.
c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano.
d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico.
e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.
4. (ENEM, 2000)
O texto abaixo, de John Locke (1632-1704), revela algumas características de uma determinada corrente de pensamento:
Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores tanto quanto ele, todo o homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com outros que estão já unidos, ou pretendem unir-se para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens a que chamo de propriedade.
(Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991.)
Do ponto de vista político, podemos considerar o texto como uma tentativa de justificar:
a) A existência do governo como um poder oriundo da natureza.
b) A origem do governo como uma propriedade do rei.
c) O absolutismo monárquico como uma imposição da natureza humana.
d) A origem do governo como uma proteção à vida, aos bens e aos direitos.
e) O poder dos governantes, colocando a liberdade individual acima da propriedade.
Referências
DURKHEIM, E. Método para determinar a função social do trabalho. In: RODRIGUES, J. A. (Org.). Émile Durkheim. São Paulo: Ática, 2000. p. 66. Coleção Grandes Cientistas Sociais. FERNANDES, F. (Coord.).
MACHADO, Igor José de Renó; AMORIM, Henrique; BARROS, Celso Rocha. Sociologia hoje. 1ª. ed. São Paulo: Ática, 2013. 424 p. v. Único. ISBN 978850816311-3.
CASTALDI, Maria José Zanardi Dias (Coord.). Sociologia: Ensino Médio/ SESI-SP (Movimento do Aprender). 1. ed. São Paulo: SESI, 2012. 264 p. v. Único. ISBN 978-85-8170-021-2.
SANTANA, Gustavo. A separação dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. [S. l.], 1 mar. 2016. Disponível em: https://www.politize.com.br/separacao-dos-tres-poderes-executivo-legislativo-e-judiciario/. Acesso em: 19 out. 2020.
COELHO, Larissa. Mapa mental: liberalismo. Disponível em: https://descomplica.com.br/artigo/mapa-mental-liberalismo/4ys/. Acesso em: 15 de outubro de 2020.
GUIA DO ESTUDANTE. John Locke. [S. l.], 16 ago. 2017. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/john-locke/. Acesso em: 20 out. 2020.
SOUZA, Guilherme. Capitalismo: como funciona, surgimento e características. [S. l.], 9 jul. 2020. Disponível em: https://descomplica.com.br/artigo/capitalismo-como-funciona-surgimento-e-caracteristicas/6KQ/. Acesso em: 20 out. 2020.
SOUZA, Amanda de. Liberalismo: entenda essa corrente política. [S. l.], 11 maio 2016. Disponível em: https://www.politize.com.br/liberalismo-o-que-e/. Acesso em: 19 out. 2020.
TAMDJIAN, James; MENDES, Ivan L. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: FTD, 2005.
LIMA, Lizânias de Souza; PEDRO, Antonio. “Das monarquias nacionais ao absolutismo”. In: História da civilização ocidental. São Paulo: FTD, 2005. pp. 142-147.
ARRUDA, José Jobson de Andrade; PILETTI, Nelson. Toda a História. História Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2007
SILVA, Kalina Vanderlei. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.
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